Em um reino muito distante havia um rei que estava muito
triste. Sua vida era monótona. Um dia, afinal, o rei foi informado de que um
moço brâmane solicitava uma audiência que vinha pleiteando havia já algum
tempo. Como estava, no momento, com boa disposição de ânimo, mandou o rei que
trouxessem o desconhecido à sua presença. E o jovem começou a falar:
__ Meu nome é Lahur Sessa e venho da aldeia de Namir, que
trinta dias de marcha separam desta bela cidade. Ao recanto em que eu vivia
chegou a de que o nosso bondoso rei arrastava os dias em meio de profunda
tristeza, amargurado pela ausência de um filho que a guerra viera roubar-lhe.
Grande mal será para o país, se o nosso dedicado soberano se enclausurar, como
um brâmane cego dentro de sua própria dor. Deliberei, pois, inventar um jogo
que lhe desse alegria novamente. E é isto que me traz aqui.
Como todos os soberanos, este também era muito curioso, e
não aguentou para saber o que o jovem sábio lhe trouxera. O que Sessa trazia ao
rei consistia num grande tabuleiro quadrado, dividido em sessenta e quatro
quadradinhos, ou casais, iguais. Sobre esse tabuleiro colocavam-se, não
arbitrariamente, duas coleções de peças que distinguiam, uma da outra, pelas
cores branca e preta, repetindo porém, simetricamente, os engenhosos formatos e
subordinados a curiosas regras que lhes permitiam movimentar-se por vários
modos. Sessa explicou, pacientemente ao rei , aos monarcas vizires e cortesãos
que rodeavam, em que consistia o jogo, ensinando-lhes as regras essenciais.
(...)
Depois, dirigindo-se ao jovem Brâmane, disse-lhe:
__ Quero recompensar-te, meu amigo, por este maravilhoso
presente, que de tanto me serviu para o alívio de velhas angustias. Diz-me o
que queres, qualquer das maiores riquezas, que te será dado.
__ Rei poderoso, não desejo nada. Apenas a gratidão de
ter-te feito algum bem que basta.
__ Causa-me assombro tanto desdém e desamor aos bens
materiais. Por favor, diga-me o que pode ser-te dado. Ficarei magoado se não
aceitar.
__ Então, o invés de ouro, prata, palácios, desejo em grãos
de trigo. Dar-me-ás um grão de trigo pela primeira casa, dois pela segunda,
quatro pela terceira, oito pela quarta, dezesseis pela quinta, e assim
sucessivamente, até a sexagésima quarta e última casa do tabuleiro.
Todo mundo ficou espantado com o pedido. Tão pouco!
__ Insensato, chamou-lhe o rei, donde já se viu tanto
desamor pelos bens materiais? Chamou então o rei, os algebristas mais hábeis da
corte, e ordenou-lhes que calculassem o valor. Após muito tempo, voltaram:
__ Rei magnânimo! Calculamos o número de grãos de trigo que
constituirá o pagamento e obtivemos um número cuja grandeza é inconcebível para
a imaginação humana. Mesmo que todas as plantações da Terra fossem cultivadas
com trigo, não produziriam tamanha quantidade de grãos:
18 446 744 073 709 551 615, ou seja,
Dezoito quintilhões, quatrocentos e quarenta e seis
quatrilhões, setecentos e quarenta e quatro trilhões, setenta e três bilhões,
setecentos e nove milhões, quinhentos e cinquenta e um mil e seiscentos e quinze!
Lathur Sessa abriu a mão de seu pedido, mas mostrou ao rei
uma nova maneira de pensar. Ganhou com isso um manto de honra e ainda 100
sequins de ouro.
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